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quinta-feira, 28 de janeiro de 2021

A maior escola de Liderança da Igreja: PJ

 A MAIOR ESCOLA DE FORMAÇÃO


Manaus: janeiro de 2015. O atual bispo de Imperatriz/MA, Dom Vilsom Basso - então pastor de Caxias, no mesmo estado - impactou as seiscentas pessoas que lotavam o auditório do Colégio La Salle. Disse ele, durante sua participação na mesa de abertura do Encontro Nacional da Pastoral da Juventude, que a "a PJ é a maior escola de formação de lideranças da Igreja do Brasil".


A frase, obviamente, foi muito divulgada e celebrada pelas/os pejoteiras/os. Especialmente naquele momento, quando acontecimentos e mudanças estruturais no modelo de evangelização das juventudes causavam muita angústia e dúvidas nos grupos de jovens de todo país.


Passados seis anos desse momento, repenso e reflito caminhos posteriores e as marcas deixadas. Em outra ocasião, também pela PJ, rezamos que não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos (At 4, 20). Eu vi, ouvi, vivi. Por isso escrevo.


No crepúsculo juvenil percebo que os crachás no fundo da gaveta deixam de ser amontoado para assumirem, cada vez mais, o perfume da sacralidade. Não ganhamos diplomas na PJ. E nem deveríamos. Mas aprendemos. E muito.


Penso o quanto cada marca pejoteira acompanha a mim e a tantos e tantas jovens Brasil afora. Os métodos internalizados repercutem no jeito de organizar, falar, produzir e construir. O círculo, internalizado no nosso ethos pejoteiro contínuo, nos faz cirandar em universidades, fábricas, comércios, campos de luta, governos, movimentos. Aprendemos a criar o espaço da escuta.


Ao falar, mesmo nas dificuldades, treinamos a desobstrução da timidez. Somos forjados ao discurso. Provocados ao debate. Não há pejoteira/o que não aprenda a desenrolar sua voz. Gente que aprendeu a gritar com os excluídos, a cantar com os desvalidos e a entoar seus gritos reprimidos das adolescências às juventudes.


Na liturgia, a técnica da organização. Na reza, a delicadeza na ornamentação. Na novena, a dinâmica de grupo. Na comunidade, a liderança.


Nas escolas, a ciranda com as crianças. Nas dinâmicas de entrevistas de emprego, a consciência crítica. Nas reuniões, a praticidade. Entendam: pejoteira/o AMA reunião. Até nos prolongamos demais nelas. Porém, é INACREDITÁVEL o quanto o resto do mundo parece não ter método algum pra fazer reunião. Sem VER-JULGAR-AGIR, o pejoteiro/a sofre - e sofre muito.


No dia a dia, a proatividade. Pega e faz. Coordena. Divide funções. Articula. Conversa. Dialoga. Os verbos correm nas veias de quem, algum dia, fez parte de alguma equipe de encontro, GT ou coordenação.


Esse olhar, do labor às poéticas práticas, nasce da experiência protagonista e insolente. Sim! Fomos forjados na insolência. Rompemos barreiras quando o lugar do jovem era o fundo da fila ou a figuração. Os/as assessores/as, cúmplices, mantiveram o distanciamento necessário para criar as cobras. No bom sentido, claro. Assim, tivemos os grandes professores que a vida podia nos dar. Às vezes, a técnica era só dar corda, deixar fluir. Sensíveis, sabiam que acompanhavam sonhos passíveis de se tornarem realidade.


É por isso que gostamos de chamar Jesus de Mestre, tal qual faziam os discípulos. Há um clamor professoral numa Pastoral profundamente pedagógica.


Para finalizar, portanto, relembro do Mestre Hilário Dick. Um assessor que tanto falou sobre estudar para aprender. No último encontro que tive com ele, fiz uma relativa caminhada pelo quarteirão da sua casa. Amparei aquele que, por décadas, amparou tantas/os jovens com sua insolência profética. Ele parecia querer me lembrar que toda caminhada é feita no companheirismo. Ninguém anda sozinho. Só se chega a algum lugar com a companhia do que sonha junto. A caminhada de Hilário terminaria pouco depois. De alguma forma - e para todo sempre - ele estará conosco. Mas, antes de ir, me lembrou de continuar aprendendo. E ensinando. Professor que foi, lecionou até o fim, mesmo nos pequenos grandes gestos.


Nós saímos dos grupos de jovens. Deixamos espaços. Mas a PJ nos corta, traspassa. E, quase sem perceber, replicamos aquilo que foi a maior escola da vida.


Deixando o justificado ufanismo de lado, é bom relembrar a frase de Dom Vilsom. É bom olhar pra vida, pra lida e pra história e confirmar: aprendemos, crescemos, voamos.


E a vida minha gente, é isso: uma escola de eternos aprendizes. Talvez isso seja um pouco daquilo que tanto chamamos de formação integral. Esse jeito de construir nossas humanidades de modo contínuo, integrado e completo. Jeito de ser e fazer como um dia lera em algum dos tantos materiais...


Eu, como tantos, fui feliz. E nem toda gratidão do mundo pode dar conta disso. Ainda bem...


VINI B GOMES

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